segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

2010

E lá vamos nós para mais um ciclo... para tanto, precisava, as usual, de algum rito de passagem, e manter o blog desatualizado por tanto tempo poderia ser um mau presságio.

Tanta coisa aconteceu neste tempo que ficou difícil relatar. Mas posso resumir dizendo que depois da vontade de voltar pra zona conhecida de conforto vêm as redescobertas.

O melhor da vida no exterior não é só o conhecimento de outras culturas, mas o quanto se pode descobrir de si mesmo.
Por tudo isto, a diferente paisagem branca e o encontro de novos amigos, já é possível imaginar o quanto toda experiência está sendo "ruim" =)

E assim encerro dezembro sucinta (quase um mligre vindo de mim) e desejosa de que, não só no próximo ano, mas SEMPRE, possamos repensar nossos valores e escolhas!

Excelente fim de ano pra todos!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A TÍTULO DE ESCLARECIMENTO

Depois dos meus últimos posts algumas queridas pessoas se manifestaram através de emails e similares afim de se certificarem sobre meu estado emocional. E eu que pensei que colocando todos ao mesmo tempo, não causaria a impressão de continuar down...ok, mea culpa!

Queria lembrá-los apenas que vim numa simples missão já conhecida por todos: desbravar Toronto. Mas tudo, claro, parte de um plano infinitamente maior que é dominar o mundo. E o Pink e o Cérebro já provaram em milhares de aventuras que este objetivo não é tão simples de ser alcançado como parece.

Estar longe da sua rotina (família, amigos, estilo de vida) é um exercício incrivelmente bacana. Vc descobre como é frágil ao mesmo tempo que não imaginava que podia ser tão forte. E como de perto ninguém é normal, virei uma sentimentalóide. De uns tempos para cá, tudo me emociona. Outro dia tive a capacidade de chorar com um vídeo, só porque mostrava um senhorzinho de seus 75 anos se equilibrando em cima de outro cara, de uma forma que, nem com meus 2 anos de idade e mais 5 pessoas me segurando, eu conseguiria.

Hoje faz 2 meses que estou aqui (impressionante como o tempo voa). Passa tão rápido que não consegui mais atualizar o blog como gostaria. Queria contar sobre os trabalhos e entrevistas que tive. E quando comecei a trabalhar no restaurante com a Nat (que agora vou todo sábado). Os contatos e projetos malucos que tenho feito, as formas que estou batalhando para abrir diversas portas e os sinais positivos e a receptividade de algumas idéias que, com paciência e tempo, acredito vão vingar.

Meu curso também ficou mais difícil. O professor é bem exigente e todos os nossos projetos semanais nos tomam bastante tempo. Tanto tempo que resolvi me dar umas férias!

Outras? Pois é, relaxei.

Ainda não ganho o suficiente para cobrir todas as minhas despesas, mas já garanto meu aluguel. E agora, depois de todas as burocracias resolvidas, eu, finalmente, recebi meu Insurance Number - que nada mais é do que um cartão que diz que estou oficialmente legal para trabalhar aqui.

As portas estão se abrindo, e isto, provavelmente significará muito trabalho aonde quer que seja nos próximos meses. Então, antes de botar a mão na massa, me dei de presente uma viagem. Vou, neste fim de semana, pra Montreal e Quebec. E volto na quarta a noite: cansada, esgotada e cheia de histórias pra contar! Boas? Ruins? Sei lá! O "Robertão" já diria que "o importante é que emoções eu vivi!" E eu concordo...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

S.O.S.

Não, isto não é um pedido de socorro, fiquem tranquilos. Trata-se apenas de uma referência musical.
Meu querido Samuca sempre mencionava um trecho específico desta letra do grande Raulzito, que tanto gosto e tudo tem a ver com o post:

"E nas mensagens
que nos chegam sem parar,
Ninguém pode notar
Estão muito ocupados pra pensar"

Aí cada um acredita no quiser, mas eu sempre fui encafifada com algumas "coincidências".

E já que este espaço também é meu, fiz questão de registrar.

1ª "mensagem":

No metrô a caminho do hotel, minha expressão de cansaço de quem dormiu 3h e só sonhou com trabalho era evidente - sem mencionar a cara inchada de choro. Mas foi só eu pisar na plataforma para um jamaicano, que simpatizou com minha camiseta do Tim (já citada no blog), vir conversar. Perguntou quem era o cantor, falou q ele era músico e que naquela noite ia para alguma balada da cidade - que não entendi qual era exatamente - para divulgar um cd. Tive o privilégio de ouvir umas "palhinhas" - cantava muito bem o rasta.

E fomos conversando no trem e combinamos que eu mandaria algumas músicas brasileiras para ele.

Antes de nos despedirmos, passei meu email, e ele anotou seus dados num caderno que carregava comigo.
"See ya!" Quando fui conferir, tava lá, depois do nome e telefone, sem nenhuma razão aparente: MUSIC - BE HAPPY!

Aceitei a sugestão. E foi exatamente com este remédio que enfrentei minha interminável noite e tudo ficou mais leve!

2ª "mensagem":

Na volta pra casa eu mal conseguia andar de tão cansada. Sabe quando vc caminha em passo de lesma com medo do impacto que o asfalto possa ter no seu pé? Não? Eu também não sabia...mas voltei andando assim, desgastada fisica e emocionalmente. Tentando me recompor e reconstruir na minha cabeça porque aquilo me incomodava tanto além de levantar questões como: será q eu consigo, realmente, passar por um trilhão de situações similares que ainda estão por vir? Foi quando quase no ponto do streetcar coloquei a mão no bolso aonde deveria estar meu RG e guess what?

Sumiu, desapareceu, tomou doriu!

"Puta que o pariu, viu! Não acredito que além de tudo vou perder meu único documento... e seguro um impulso de choro.
"Cara, vc se ralou de limpar coisas por 7h seguidas madrugada adentro de um sábado e vai desabar agora? Acorda meu, isto é ridículo" - sim, eu falo sozinha...

E lá vou eu voltar até o hotel, olhando fixamente para o chão...

Encontrei no caminho um personagem do "Alien- o oitavo passageiro". Sabe naquela luta do final? Aquele robô monstrengo que a Sigourney Weaver entra para enfrentar o outro monstrengo? Foi bizarro...por instantes pensei que estava delirando. Mas os catadores de latas e outros materiais recicláveis aqui, trabalham assim (os contratados pelo governo, claro).

Resolvi perguntar se ele tinha, por acaso, visto um RG no caminho e blablabla. No fim ele me deu as coordenadas de um café próximo e disse que, se achasse, entregaria para o dono. "Passa lá mais tarde e pergunta." Sorri e achei o máximo eles terem um esquema para tudo. Não duvido que se ele achasse, realmente faria isto. Aquela coisa da educação canadense...

Agradeci e continuei refazendo meu trajeto olhando pro chão e pensando que NADA naquele momento, me faria mais feliz do que, simplesmente, encontrar meu RG. E alguns passos depois lá estava ele: minha foto virada pro chão, largada e jogada. Abaixei para conferir: perfeito! Era o próprio. Lindo, verde, inteiro, meu e o mais importante: comigo!

Dou meia volta e encontro novamente com o Sigourney Weaver guy, que presumi, também voltava para me ajudar na busca. Abri aquele sorriso e mostrei o que eu tinha acabado de achar. Ele se aproximou, "comemorou" verbalmente comigo e conversamos um pouco, sobre minha experiência no Canadá. Perguntou o q eu tava fazendo aqui, se estava gostando, quanto tempo pretendia ficar... coisas que agora eu podia responder sem chorar, sem me arrepender, praticamente sem pestanejar. Eu tinha me encontrado!

3ª "mensagem":

No dia seguinte do hotel, um dos chineses responsáveis pela casa veio para cuidar do encanamento do chuveiro ou do azulejo. Vai entender qual era o problema! Nem em português eu consigo...

Ele tinha me avisado no dia anterior que viria e que levaria no máximo umas 4h. E claro, como qualquer conserto em qualquer parte do mundo, o tempo estimado é sempre inferior ao real. No fim, ele deve ter demorado umas 8h. Nada que me atingisse, tomei banho assim que cheguei (às 7h30) e meus planos para o dia eram: dormir, assistir seriados e comer.

E numa das minhas passadinhas na cozinha, vi um "braço" em cima da mesa e pensei: " Meu, estes chineses são muito loucos mesmo, né? Eles usam cada ferramenta...pra que o cara vai usar um braço para colocar o outro dentro e mexer em alguma coisa?" Foi quando o tico e o teco se bateram: "Ops, acho que se fosse uma ferramenta ela não teria um relógio, né?"

Não encontrei mais com ele, mas soube pela Nat que ele, realmente, não tem um dos braços. No entanto, o ching ling tava lá, martelando, colocando azulejo, detalhe: da casa DELE. Seguindo a vida como todo mundo deve fazer, independente das dificuldades. Me senti pequena e agradecida.

Coincidência? Mensagem angelical? Extraterrestre? Coisas da minha cabeça? Quem sabe?

Mas pra mim, ainda acho que aquela velha história sempre vai caber: Yo no creo en las brujas; pero que las hay, las hay!

OS SUBEMPREGOS - PARTE II (O TRABALHO ENOBRECE O HOMEM - MAS CANSA)

As poucas horas que dormi naquela manhã, sonhei com a faxina. Mandei um email contando as novidades para minha mãe, claramente desgostosa com o trabalho.
Ela me respondeu com este título ( ) e aproveitou para me lembrar de várias situações extremas de imundice e outros perrengues de viagens que eu já tinha passado e relatado em algum momento. Um apoio querido para me dizer "tenho certeza que, se você quiser, vai tirar de letra!"
Mas como nós mesmas discutimos depois, o fato é que, depois de 10 anos trabalhando na sua área, você não tem nem idéia do que é começar em outra, principalmente, com outro tipo de qualificação e exigência.

Tentei focar numa pesquisa/documentário que vi uma vez, que falava que as pessoas que tinham os índices mais altos das substâncias que geram sensação de prazer e alegria no corpo, não estavam necessariamente no topo da nossa pirâmede econômica ou social. Ao contrário, segundo esta pesquisa, as pessoas "mais felizes do mundo", são uns monges que vivem no himalaia abstêmios, passando frio, fome e limpando banheiros! Olha só que bela oportunidade...

Mas neste sábado antes de eu ir pra lá, eu desabei.

"Eu não estudei só 4 anos, estudei minha vida inteira! Sem contar os cursos, a dedicação... joguei tudo pro alto, larguei meu conforto, tive que parar de fumar, diminuí drasticamente a bebida porque o aluguel é mais importante, e agora, não vou nem treinar o meu inglês?" - crise de choro.

E tive uma idéia brilhante:

"Preciso voltar antes de venderem meu carro!"

E choro e procuro alguém disponível no msn ou no skype, detalhe: num sábado à noite. E claro, não encontro. Mas ao mesmo tempo q eu queria achar alguém, sabia como era bom estar passando por tudo isto sozinha, sem ninguém pra dizer "vai dar tudo certo" ou qq coisa similar.

"Guenta" o tranco! No fim, sofri tanto por antecedência que quando chegou a hora de trabalhar, liguei meu ipod, me desliguei do mundo e assim, o diabo nem pareceu tão feio.

Isto claro, só até as 2h da manhã - hora q saía da parte dos corredores, escritórios e banheiros dos empregados - área carinhosamente intitulada "ralé", e passava para o "launge" que era a área principal, dos hóspedes e frequentadores do bar. Aquele negócio parecia não acabar nunca... varria, limpava e quando, finalmente, pensava aliviada "oba é só mais este salão", apareciam estas passagens secretas que dão para mais outras sub-salas sujas e ansiosas por limpeza.

Sem contar as que você nem lembra que existe mesmo. Em uma delas, eu não conseguia lembrar por nada, aonde ficava o raio do interruptor.

"Vou pedir ajuda pro careca nojento!"

Mas o inútil também não achou. Então varri tudo no escuro mesmo. "Pronto tá ótimo!"

Minutos mais tarde, enquanto eu passava o aspirador no bar, encontrei mais uma sala que não reconheci: "será que tenho que limpar esta também?" Na dúvida, entrei com o aspirador e tudo, e quem eu encontro dormindo no chão? Tadáááá: O careca nojento.

E assim selamos um trato visual: " eu não falo que você tava dormindo se vc não disser q varri aquele salão que nem meu nariz (sem fazer alusão a nenhum tipo de piada infantil)". E depois de 7h limpando toda aquela merda - literalmente inclusive, eu finalmente acabei e fui para meu mais que merecido descanso. Monge é o caralho!

OS SUBEMPREGOS - PARTE I

Antes de eu começar estes meus "experimentos", lembro q o Henrique me disse:

" O primeiro dia é o mais chocante. Você pensa: estudei 4 anos para isto? Mas depois vc se acostuma e supera."

Meu primeiro dia foi um treinamento de 4h no boteco da Maria. Me senti um peixe fora d'água. Além da desorganização, eu tinha que perguntar o tempo todo se as pessoas queriam mais alguma coisa. Mas a gente, que não está acostumado, nunca sabe se vai interromper a conversa, se vai atrapalhar. E quem gosta de ser inconveniente?
Ela acabou ficando de ligar e eu acabei descobrindo que passei o número errado, então ficou tudo por isto mesmo. Achei melhor procurar outra coisa.

A outra coisa apareceu: "cleaner" (que é o nome bonito que dão para faxineira) de um hotel cinco estrelas.
Fui para o treinamento, e como não poderia deixar de ser, comecei a minha aventura já no caminho...

Eu tinha que descer na Peter Street. E a voz de sempre, anuncia:

"Próxima parada John street"

Não tive dúvida, assim que o streetcar parou eu desci, mas depois de 3 passos lembrei: "Poutz, não era Peter?" e entro pela frente novamente.
"Peter, John...saco de nome de apóstolos!"

Páro atrapalhada ao lado do motorista tentando pegar, novamente, meu metropass na mochila e, percebendo que ele me reconheceu, justifico sem graça:

"Eu errei o ponto!" - sorriso amarelo. E continuo revirando as coisas...
"Vc só errou o ponto não precisa me mostrar de novo. Em q rua vc vai?"
"Peter st"
"dkfgndkhjndknjgksjnkng" - o que significa que não entendi absolutamente nada do que ele disse. Mas sorri agradecida e fui sentar.

E um monte de rua passa e nada da Peter...uns 15 minutos e diversos km depois resolvi perguntar pra um cara do meu lado que, gentilmente, me informou:
"Nossa, passou faz tempo. Desce e pega o streetcar do outro lado que não dá pra voltar a pé!"

Faço uso do sorriso again e desço.

Atravesso a rua, penso que acho o ponto e fico na garoa esperando. Daí um taxi pára, exatamente, na minha frente.
"Como o streetcar vai me ver?" Fiquei brava, chamei ele de idiota e claro, como o esperado, a merda do streetcar passou e me deixou plantada, molhada e agora atrasada.

O motorista do taxi vendo toda aquela cena, me esclarece q aquilo não é o ponto. Que estou esperando no lugar errado. Lanço novamente o mesmo sorriso imbecil e vou em busca do ponto certo. Demoro alguns minutos para achar, mas finalmente acerto e adentro o veículo que chegou em 5 min, graças. Desta vez resolvi me informar antes:

"A Peter street é um ponto? Quando o streetcar passa por ela vão anunciar?"

E adivinha quem era o motorista? Exatamente: o mesmo da ida que, por sinal, já estava voltando. Ele se diverte com minhas trapalhadas:

"Mas como vc perdeu o ponto?" risos
"Vc acredita que eu vim parar aqui?"
"Mas eu t falei que era o ponto seguinte da John!"

E finalmente o sorriso amarelo é substituído, mas por aquela cara de pirulito "SUCKER" de desenho animado.

"Ah, eu não ouvi"
"Senta aqui na frente que eu te aviso aonde vc tem que descer."

E o cara foi conversando comigo e rindo o caminho inteiro, toda vez que lembrava do meu estúpido trajeto...

Tudo friamente calculado pela minha missão secreta de desbravar Toronto, ele que não sabe nada!

E assim, depois de toda esta pataquada, chego no hotel, quase 30 min depois do horário marcado.
Tinha combinado com o Tiago - o brasileiro que ia me treinar - de nos encontrarmos dentro do hotel, logo na entrada.

"Me espera no sofá marrom!"

O hotel ocupa um quarteirão e eu não tenho certeza de qual é a entrada que ele falou. Acabo adentrando a principal e as pessoas abrem as portas pra mim e - lembrando que fui fazer faxina - me divirto com a idéia. Sento na "poltrona" marron e mando uma mensagem pro Tiago. Espero mais um pouco e mando outra. E mais outra...e nada do Tiago...resolvo perguntar pros caras da recepção que, provavelmente, estavam se perguntando o q eu estava fazendo lá.

"Oi eu estou esperando o cara da cozinha" (tinham me falado de uma vaga pra limpar a cozinha)
"Da cozinha?"
"É o Tiago..."
"Ah o c-l-e-a-n-e-r?"
"Eh..."
"Ele ainda não chegou porque ele tem que passar por aqui para pegar a chave. Você veio para ajudar ele?"
"Sim! Vou esperar aqui então, tudo bem?"
"Hmpf" - olhar de nojento- "faça como quiser"

Era um careca metido que ficava na recepção achando que só porque ele bajulava quem tinha dinheiro, era importante. Que babaca, ridículo!
Voltei pra poltrona e aí sim, fiz questão de acionar o meu ipod e ficar ali, em evidência e esparramada, até o tal do Tiago aparecer.

E assim ele chegou - um figura - tava me esperando no saguão da entrada dos empregados (óbvio), no tal do SOFÁ marrom, mas eu só descobri aonde era, no final da noite.
Então ele me explicou o serviço. Cozinha? Que cozinha que nada.
Teria que limpar de madrugada, corredores, mesas, banheiros (urgh), varrer, passar aquele "vassourão" igual dos jogos de volley e o tal do mop no final. Saguão, escritórios, bar, padaria, era sala que não acabava mais. E o Tiago me confortou: "Este trabalho é fácil, eu que estou acostumado faço em 3h30. Como o tempo você pega ritmo e termina logo também."
Ficamos das 1h30 até às 6h... voltei pra casa morta de cansaço com uma listinha da ordem e de todo o procedimento do serviço. Afinal, no dia seguinte, eu iria sozinha...

sábado, 3 de outubro de 2009

1 MÊS DE CANADÁ



Fez dia 24. E parece que cheguei há 15 dias quando tento medir sem pensar em todas as coisas que já fiz.

Mas quando lembro, parecem 5 meses, afinal em um mês eu já:

• fui pra Niagara Falls
• fui para Toronto Island 2 vezes (segundo a Nat tem pessoas que acabam indo embora sem fazer estes dois programas)
• visitei Distillary District ,China Town e High Park
• vi um encantador de pedras
• conheci a Universidade de Toronto
• tomei limonada cor de rosa
• aprendi a falar 3 frases em japonês
• vi uma micro barata
• fui em um festival brasileiro de música e tomei caldo de cana por $5,00
• passei em frente a CN tour e o Sky Dome (mas ainda quero jantar em um e assistir a um jogo de hockey no outro)
• andei a cidade inteira a pé e fiz bolhas todas as vezes
• já comi comida grega 3 vezes - q é o melhor em gastronomia da cidade, até o momento
• fiquei presa no metrô por causa de uma medical situation
• vi milhões de esquilos
• conheci um diretor de cinema brasileiro
• fiz trabalho voluntário
• carreguei uma escrivaninha
• tomei alguns tipos de cerveja
• experimentei um jantar típico australiano
• joguei sinuca e pebolim - tanto ao ponto de não lembrar como quase, totalmente sóbria
• andei de bicicleta com freio nos pés
• jantei num restaurante italiano com milhões de entradas - despedida do Andrew que gentilmente nos bancou
• experimentei soju (pinga koreana)
• parei de fumar (na verdade há mais de 10 dias)
• conheci algumas pessoas incríveis de diversos lugares do mundo
• trabalhei num boteco e quebrei uma xícara
• inundei um banheiro
• aprendi, finalmente, a facilitar e conferir o troco com as moedas locais
• conheci uma biblioteca atualizada de verdade
• comprei e quebrei um espelho
• passei um calor dos infernos no Canadá

Além de algumas descobertas pessoais:

• gosto de escrever
• abrir um quiosque é incomparavelmente pior do que se sentar em um e apreciar a vista com uma bela capirinha servida por alguém
• sinto falta de trabalhar na minha área
• o mundo capitalista é bem mais legal do que eu pensava e ter uma vida simples, sendo sustentada com trabalho braçal, só é legal até você arrumar um
• tenho paixão por computador de uma forma que nem eu imaginava. Sou capaz de passar horas na frente dele: fazendo de tudo ou absolutamente nada.
• ter um hobby e dedicar tempo a ele é uma coisa que nem eu, nem ninguém deveria abrir mão.
• é possível viver sem rum todos os dias
• depois que você demora 20 minutos para chegar em qualquer lugar não consegue imaginar como vivia levando 2 horas.
• sou legal mas não ao ponto de ficar feliz ao servir alguém
• a família e os amigos a uma corrida de carro ou a um braço de distância são essenciais no meu dia a dia, mas existem coisas que só aprendemos absolutamente sozinhos.

Ufa cansei!
Mas será que em 8 meses dá tempo de descobrir o tele-transporte?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MITOS E VERDADES



Bom, por conta de diversos acontecimentos e da habitual preguiça que resolveu se apossar de mim nos últimos dias, fiquei sem postar.
Então, decidi fazer um apanhado geral e relatar minhas mais recentes descobertas neste post, que carinhosamente entitulei: "Mitos e verdades".

TODO CANADENSE É POLITICAMENTE CORRETO
Falso.

Conheci a "Toronto Reference Library". Imensa e recheada de excelente material. Para se inscrever e levar livros para casa, basta comprovar o endereço. (Ainda estou trabalhando neste tópico). Na saída encontrei um segurança que me pediu, conforme manda o figurino, que abrisse a mochila. Ele analisa o conteúdo, olha para o meu maço, fecho a mochila e ponho nas costas pronta para sair quando ele me pergunta se fumo. Respondo que sim e espero um sermão:

"O branco ou o vermelho (Marlboro)?"
"Nenhum dos dois, na verdade..."
"Ah o verde? O mentolado?"
"Sim"
"Eu adoro este"
"Mas to pensando em parar"
"Parar? Pra que? Fumar é ótimo! Só não fique viciada..."

O mundo e os canadenses permanecem na nobre missão de me manter dentro da minha normalidade!

AS BARATAS SÃO OS BICHOS MAIS ASQUEROSOS DO UNIVERSO
Meia verdade.

Claro que minha "cucaracha fobia" não ia passar de uma hora pra outra. Mas consegui achar um inseto que me causa quase a mesma repulsa. Com um agravante: além do asco, provoca medo. As "lacraias". Nem sei se é este exatamente o nome delas. Mas parecem pequenos nojentos escorpiões - por isto o medo. E as danadas são velozes. Quase fiquei com saudade da burrice da barata que fica tonta e parada esperando pela chinelada. Aqui a barata - pelo menos a que vi - é micro.
E assim a tese se justifica.

A CARTEL FAZ SUCESSO TAMBÉM NO EXTERIOR
Verdadeiro.

Meu querido amigo Cuti faz umas camisetas com perfis estilizados de alguns nomes consagrados da nossa música. Todos que conhecem aí no Brasil gostam. E aqui não foi diferente: tanto com brasileiros, como com meus professores canadenses que quiseram saber de quem se tratava. A minha é do grande mestre Tim Maia.

Cuti, se conseguir vender em dólar fico com uma parte e desisto do quiosque, ok?


TODO CANADENSE É EDUCADO
Verdadeiro.

Tudo bem que aqui, provavelmente, eu só conheci de canadense mesmo os professores da escola e o amigo do Brendan. Mas mesmo assim...
Estou eu no metrô, me segurando de uma forma bizarra qualquer quando, subitamente (como em qualquer lugar do mundo), o condutor freia o trem com a delicadeza de um hipopótamo dançando xaxado numa loja de cristais. O cara do meu lado quase cai em cima de mim, eu perco o equilíbrio e faço uso das minhas duas mãos para não causar acidente maior. Doce ilusão: minha blusa (apoiada no braço) voa gentilmente NA CARA de uma distinta senhora que lê um livro na minha frente. Ela com seu penteado de 2 horas em suas roupas impecavelmente limpas e rigorosamente passadas estava, agora, com a minha blusa enrolada na cabeça. Fiquei tão constrangida que soltei um " DESCULPA" em português mesmo. Ela sorriu, devolveu minha blusa e não pareceu se importar "at all" com o ocorrido. E detalhe: ninguém em volta riu.

Só eu...mas achei que contar até 1000 sem externar numa gargalhada seria mais educado (ou canadense).


PORTUGA É DESORGANIZADO.
Verdadeiro.

Fui umas 3 vezes no tal do Maria até conseguir realmente fazer o "treinamento". Ela falava que ia ligar e eu que ligava. Marcava para um dia e depois pedia para eu aparecer no outro. Quando, finalmente, se decidiu, apareci para uma "apresentação" de 4h. (Apresentação sim, não se esqueçam - sou eu)

FICAR DO OUTRO LADO DO BALCÃO É FODA.
Verdadeiro.

E na minha apresentação de 4h eu: enchi os vidros de temperos; peguei algumas bebidas do estoque e coloquei para gelar; botei o lixo pra fora; lavei mal e porcamente algumas raras xícaras e copos (naquele procedimento nojento comum em botecos de usar uma pia cheia de água quente e enxaguar com água corrente); servi uns clientes; não entendi PORTUGUÊS e quebrei uma xícara! (aí está para os que estranharam minha bem sucedida entrevista).

Aí não sei se o problema era com eles ou comigo. O lugar era desorganizado, as mesas não tinham número, mil funções ao mesmo tempo e ninguém me falava o que priorizar.

Agora confuso mesmo é o português de Portugal. O inglês fica perfeitamente claro, quando comparado a ele. Afinal de contas, se alguém vai conversar com você na sua língua é natural você supor que vai entender tudo, certo? Mas a realidade não é esta.
Em um dos casos, usei meu sexto sentido e acho que acertei o pedido. Pelo menos ninguém reclamou.

Mas não tive esta sorte com todos:

" Eu quero uma Bru" (???)

Sem ter a menor noção de todas as marcas de cervejas que existem aqui, eu pergunto 3 vezes para confirmar " Bru?"
Vou até o balcão e por sorte, consigo uma. "Ufa, ela existe!"

Olho para o rótulo e a breja chama "BLUE"!!!

Poutz! Já vi que vou ter pobrema.

AQUI SÓ TEM NEGÓCIOS DE OUTRO MUNDO.
Literalmente verdade.

Estou falando de negocinhos, claro. Lojinhas, restaurantes, bares. A maioria que conheço tem dono de todas as partes do mundo, menos do Canadá.
E claro, nestes negócios você acaba percebendo que sempre existe alguém tentando se aproveitar da sua ingenuidade (ou burrice mesmo).

No Maria, por exemplo, eu tive a sensação desde a primeira vez, que ela queria fazer "testes" só para ter pessoas trabalhando de graça.
Não dá para acusar sem provas, mas conheci uma brasileira do meu curso que também teve uma experiência lá e depois não ligaram mais para ela.
Claro que depois de todas as minhas confusões plus prejuízo de uma xícara, ela vai repensar. E assim eu salvei o mundo de mais um tirano bigodudo!

Daí descubro, num dia qualquer, uma academia de dança, que fica a uns 5 minutos a pé de casa. Tentei colher informações sobre preços e horários, mas a professora me pediu para voltar no dia seguinte para eles avaliarem meu "estágio". Digo que não devo começar agora, só daqui a alguns meses. Ela diz que não tem problema para eu ir mesmo assim.

No dia seguinte fiz este percurso absolutamente feliz. Lembrei como é boa a sensação de se dedicar a um hobby que você realmente gosta.
Mas lá chegando, não fiz aula teste bosta nenhuma. Só preenchi uma papelada e conversei por 30 min com o dono da escola - um equatoriano ex-modelo - que tentou me persuadir a começar as aulas "right away". Expliquei que agora não teria como. Mas ele continuou, falando que ele também começou como imigrante aqui, e que as coisas no começo são difíceis mas depois melhoram. Um blablabla inútil e sem fim para o momento.

Suspirei cansada destes abusos, mas continuei lá, olhando para ele e fingindo que ouvia. Afinal, o cara era mó gatinho e eu não tava fazendo nada mesmo. Me senti vingada.


CANADENSE NÃO XAVECA
Talvez não.

Não frequento ou conheço tantos canadenses para ter um veredicto sobre estas abordagens. Sei somente que eles existem e estão por aí.
Até porque quando você é um estrangeiro, estudante ainda, tende a se juntar a grupos de pessoas na mesma situação e acaba não conhecendo "de perto", nenhum. Escolha que deve mudar com o tempo, imagino.

Mas voltando ao ponto dos xavecos, posso afirmar somente que as abordagens carudas que ouvi até o momento vieram somente de outras nacionalidades: um português que queria me acompanhar na saída do bar (que eu estava treinando, detalhe) e um russo - até então achava que todos usavam um casaco vermelho, um chapéu gigante e faziam propaganda do circo Vostok.

Mas quero contar esta história do russo porque me impressionou:

Primeiro o cara me parou do nada, em um dos pontos mais movimentados da cidade, quando eu estava prestes a subir uma escada rolante. Começou a me elogiar e puxar conversa. Achei muito curioso ele ser russo, nunca tinha visto um sem estar no circo! Depois quis mesmo conferir como eles conduzem este tipo de conversa, não exatamente porque ele era interessante, mas quando mais na vida eu teria a oportunidade de saber como um russo aborda uma mulher?

Ele me convidou para um café mas eu tinha um jantar marcado com a Nat, o Brendan e o irmão dele - e eles só estavam me esperando. Ainda se ele tivesse me oferecido uma vodka...

O cara aparentava ser mais velho e, nestes casos normalmente, você espera algo mais elaborado. Mas juro que depois de trocar emails, ele se despediu dizendo:

"I am looking for a lover. And I know that we will be great togheter!"

Hein????? Quase rolei de rir. Agora tenho certeza: ele não me ofereceu a vodka porque já tinha acabado com ela!


CANADENSE É MAIS RESERVADO.
Não mesmo.

Diz a lenda que eles são lerdos, demoram para chamar as meninas para sair e talvez tentem alguma coisa depois do 3º encontro. Por alguma coisa leia: um selinho idiota. Não existe "ficar" e ninguém sai beijando facilmente. E assim a gente pensa que os canadenses, para a realidade atual, nasceram em mosteiros e conventos, né? Very wrong: sabe AQUELES bailes funks do Rio? Pois é exatamente assim que homens e mulheres dançam nas baladas, NORMALMENTE, por aqui. Vulgarmente encaixados, com direito a simulações e tudo mais. Meninos, eu vi! E ouvi dizer inclusive, que algumas vezes, as meninas, não necessariamente, estão completamente vestidas. E os figuras ficam cheio de pudores com beijinhos?

E depois é a gente que leva a fama!

O CANADÁ É UM PAÍS MULTICULTURAL
Coloca verdade nisto.

Já conheci neste curto tempo de Toronto: português, canadense, australiano, panamense, equatoriano, chinês, russo, koreano, italiano, japonês, árabe, jamaicano, mexicano e até um cara do sri lanka (cingalês segundo a internet).

Espero, pelo menos, melhorar um pouco minha noção de geografia...


OS AUSTRALIANOS SÃO OS BRASILEIROS QUE DERAM CERTO
Verdade absoluta.

Andrew, o irmão do Brendan, veio para visitá-lo no aniversário. Super tranquilo, atencioso, um querido. Ele mora em Londres, vai ser pai e se casar em abril com a namorada de 10 anos. E com ele, conheci 3 australianos e todos eles: adoram beber, se divertir, são sarcásticos, comunicativos e absolutamente festeiros. Quando chegam fazem festa e ao se despedir também. Neste caso, ainda ganhamos um delicioso jantar com direito a milhões de entradas num restaurante italiano do guia turístico dele.

Eles também tem um clima ótimo no país e praias maravilhosas. E assim a única diferença que sobra, além da Austrália ficar no fim do mundo, é que eles nasceram virados para lua: tem como língua natal o inglês - e com isto maior facilidade para se comunicar com o resto do mundo (muito embora às vezes tenho minhas dúvidas se o que eles falam é mesmo inglês) - e o visto destes brasileiros sortudos é aceito em qualquer parte do mundo (inclusive o de trabalho). Sem regras e sem choramingos. Ah claro! Faltou mencionar a política e economia do país que também funciona perfeitamente. Mas este é só um pequeno detalhe...

CONTINUO FAZENDO TRAPALHADAS
Absolutamente verdade, graças.

A última foi no dia que resolvi diagramar de uma forma um pouco mais simpática o meu currículo. E nem sei porque, perguntei se a Nat queria ver. Foi a sorte, porque ela resolveu ler:

"Sá, que número de telefone é este?"
"Ué, o do celular que você me deu"
"Não é este número, não. Da onde você tirou este número, mulher?" (só para não me chamar de louca)
"Daquele primeiro dia que fui na Maria e você ainda estava com este celular. Eu pedi o número para poder passar, será que você entendeu..."

Confiro em outro papel o número que sabia ser do bar da Maria e guess what: todos os contatos que fiz nas últimas semanas estavam com o telefone dela.
Aliás passei este número como sendo meu, inclusive para a própria Maria que, se bobear, já se ligou algumas vezes e não entendeu porque tava sempre ocupado.

Gargalhamos sem parar da minha habitual falta de senso.
E assim me auto-saboto mais uma vez. Ou na versão popular que prefiro: a gente se fode mas se diverte.